quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Viver é Raso. Imprensa



Nesse nosso tempo, agora, estamos vivendo a era da imagem. Tudo em nossa volta conspira a favor da imagem. Cinema, TV, computador, celular, publicidade de rua, etc.etc. Nosso cérebro recebe diariamente, em torno de trezentas vezes mais imagens que sua capacidade de absorção e análise. O chamado homem moderno, aquele que hoje vive em cidade de médio ou grande porte, possui carro, casa, freqüenta cinemas, vê televisão, trabalha no mínimo duas horas por dia frente a um ecrã de computador. Esta super exposto a todas as novíssimas formas midiáticas de informação, persuasão e deformação. Assim, sem poder digerir como se deve e analisar como lhe convém tantas imagens, fica no raso de praticamente todas elas. Por isso, nesse nosso tempo de agora, estamos vivendo no raso. Tão raso que a maioria de nós, se precisar mergulhar alguns milímetros apenas abaixo da superfície, morre afogada.

As novas tecnologias nos fizeram ganhar um tempo incomensurável, em relação há alguns anos atrás. Em quase todos os setores de nossa vida. Para enviarmos uma carta a alguém, uma década atrás, escrevíamos, íamos ao correio, o correio.... Isso nos tomava pelo menos duas horas. Fazemos isso hoje em poucos segundos. Ganhamos muito tempo... Ganhamos?.... Esse tempo seria o suficiente para nos aprofundarmos em nossas leituras e análises do cotidiano, em nossa compreensão da existência, em nossa... Mas cadê esse tempo?... Não o temos. Falta-nos. Precisamos, agora que a hora tenha cem minutos e os dias quarenta horas. Estamos viajando em alta velocidade, embarcados numa nave que não tem piloto, e não temos tempo nem sequer de contemplar a paisagem. Não dá!... Não podemos!... Não temos tempo, pois há tanta coisa pra se ver, vender, comprar, pensar, perder, achar, buscar... que tudo fica assim: No Raso!!!... Será que fomos transformados em um grande rebanho?

Foi inspirado nessas reflexões que nasceu “Viver é Raso”. Depois de pronto, o texto teve momentos de confronto com Duchamps e Magrite e até andou flertando com Nietzche, num niilismo involuntário, muito mais pelo cansaço de levantar bandeiras que de postura ideológica. Viver é raso pretende ser o primeiro de uma trilogia, cujo segundo texto já começa a se desenhar e deverá chamar-se “Morrer é Longe”. Mas até lá, enquanto vivemos, pensamos no RASO!... Longe, ainda está um bocado... LONGE!!!

A necessidade de esvaziar as mentes, para criar e formar conceitos mais críticos de nós mesmos é uma urgência.VIVER É RASO é uma proposta ousada de buscar a reflexão ao contrário, no avesso, na contramão da corrente. É a possibilidade de conversar com o público através de suas próprias “lacunas”.  São sete atores vivendo situações quase absurdas, que entretanto ensejam o “autismo voluntário”, a que nos lançamos, cotidianamente. O espetáculo Viver é Raso, de autoria de Amauri Tangará, foi concebido para a Mostra Internacional de Teatro de Oeiras – Portugal, em 2009 e premiado para montagem no Brasil pelo Prêmio Myriam Muniz.

Do Autor:




Faço parte de uma geração que teve de enfrentar vinte anos de ditadura e o teatro foi uma trincheira e uma arma fundamental para a nossa sobrevivência. Durante as décadas de setenta e oitenta, como presidente da Federação Mato-grossense de Teatro Amador e depois membro da diretoria da CONFENATA, pude assistir dezenas, centenas de espetáculos, de norte a sul do país, da mais alta qualidade política, artística e estética. Todos os que compartilhávamos a utopia libertária, tínhamos no teatro nosso maior trunfo. Nesse tempo, toda vez que tínhamos de encenar uma peça, promover um encontro, realizar um festival, tínhamos que tirar dinheiro do “... da nona” e mesmo assim, os espetáculos eram maravilhosos, os encontros estupendos e os festivais inesquecíveis. Foram tempos difíceis, mas de uma criatividade e de uma força jamais vista.

Mas o “BOING” da história seguiu adiante e chegamos até aqui, vivos, sobrevividos e acima de tudo, cheios de tesão de continuar uma luta que não só ajuda a derrubar ditaduras, mas e principalmente, colabora na preparação de novas utopias. E hoje, mais que nunca, precisamos delas. A ditadura, ao contrário do que muitas pensam, não acabou ela se transvestiu fez plástica, mudou de cara e de nome e está aí mais poderosa que nunca. Nunca fomos tão oprimidos. Só que agora, ao invés de sermos trancafiados nos porões, somos amarrados em sofás, cadeiras, nas frentes de TV e computadores. Ao invés das torturas físicas, somos massacrados mentalmente por milhões e milhões de ofertas de coisas que não necessitamos. Estão nos transformando num rebanho que já não consegue viver sem as coisas inúteis. Nossas bolsas, malas, armários e dispensas, estão atolados de inutilidades sem as quais, confessamos, não conseguimos sequer respirar. Estamos sendo domesticados e catequizados para seguirmos à risca em pensamento e prática, a mais profunda e contundente filosofia contemporânea: “deixa como está pra ver como é que fica". Estamos ficando híbridos, transgênicos, rasos... Se o teatro vai nos salvar, não sei, mas pretendemos fazer alguns estragos...
A DRAMATURGIA DO VAZIO
Alguns estudos recentes detectaram que o chamado "homem moderno" que vive ou trabalha nos grandes centros urbanos, recebe diariamente através da visão e da audição, uma carga de informações 300% acima da capacidade de absorção cerebral. Hoje, quase tudo é imagem e som. Vivemos uma profunda e desordenada poluição visual e sonora que não nos permite um maior aprofundamento do que vemos e ouvimos. As informações são muitas e congestionam nossos sentidos não nos permitindo um maior discernimento do mundo que nos rodeia. Então fugimos para um cinema e lá estão todos esses elementos ampliados. Tentamos nos esconder em casa, mas as telas da TV e do computador vomitam milhares de informações na nossa cara e aí só nos resta tentar  a paz de um TEATRO, mas somos apanhados por uma enxurrada de gestos, palavras e trilhas sonoras... Estamos literalmente sitiados, cercados por todos os flancos por uma profusão de coisas que nos atordoa.
A DRAMATURGIA DO VAZIO propõe uma viajem ao silêncio visual e sonoro. Silêncio de palavras e de gestos... Deixar que o corpo, com o que possa ainda nos restar de mais primitivo e sensorial, fale por si de um modo simples, sem artificialidade. Vamos contar histórias e estórias  sem enredos definidos, para que o espectador as conclua. Vamos convidar o público para mergulhar no vazio e dele extrair todos os elementos necessários para uma conspiração silenciosa.
Para isso temos antes de tudo que acreditar na nossa capacidade de persuasão sem usar os velhos e gastos instrumentos do cotidiano.




A DRAMATURGIA DO VAZIO começa por desprezar alguns elementos que já fazem parte da nossa cultura comunicativa. Dentre eles, a força da imagem, o discurso sonoro, a defesa de idéias e o juízo de valores. A palavra, quando usada, não é para explicar nada e o gesto nunca se define porque é inadequado para o intento. É quase um perder de consciência, estando na mais perfeita conexão com a mesma. É um silêncio interno assustador e quando aflora na pele, diz tudo e de uma forma,  que as palavras e as imagens com toda sua força, jamais alcançarão.



Amauri Tangará


FICHA TÉCNICA

TEXTO E DIREÇÃO: AMAURI TANGARÁ
DIR. DE PRODUÇÃO: TATI MENDES
FIGURINOS: TATI MENDES
ASSIST. FIGURINOS: ROSALINA R. MENDES
                                     AMÁBILE ERCÍLIA
COSTUREIRA: ADAILSE GOMES
ADEREÇOS: EDLAMAR CALIL
DIREÇÃO TÉCNICA: PAULO KRUCHOSKI
FOTOGRAFIA: BRUNO OLIVEIRA
ESPAÇO CÊNICO: AMAURI TANGARÁ
ASSIST. PRODUÇÃO: EDITE GOMES
BILHETERIA: JAQUELINE DA SILVA
PORTARIA: MARCELINO SOUSA


ELENCO: FERNANDA MARIMON

                 HOSANA NAS ALTURAS
                 JÚLIO CARCARÁ
                 MENOTTI GRIGI
                 ROMEU BENEDICTO
                 THAISA SOARES
                 TUKA CALGARO
Elenco de Apoio: ZEUS (o cão)

                 
                
SERVIÇO:
O QUE:      VIVER É RASO - Espetáculo teatral
ONDE:       LIONS CLUBE DE CHAPADA DOS GUIMARÃES (Seguir reto pela rotunda de entrada da cidade, entrar na primeira à esquerda.
QUANDO: DE 07 A 16 DE OUTUBRO DE 2011
QUANTO: R$20,00 (INTEIRA) e R$10,00 (MEIA)

O espetáculo que estréia no próximo dia 07 de Outubro de 2011, tem promoção:
Dia 07/10 – Estréia para convidados
Dia 08/10 - do Abrigo Bom Jesus de Cuiabá,
Dia 09/10 – do Lions Clube Internacional
Dia 10/10 - da Fundação Hospital Santo Antônio de Chapada dos Guimarães
Dia 11/10 – do Lions  Clube Internacional
Dia 12/10 - da Escola Rafael de Siqueira em Chapada dos Guimarães
Dia 13/10 – do Abrigo Bom Jesus de Cuiabá
Dia 14/10 – da APAE de Chapada dos Guimarães
Dia 15/10 e 16/10 – público em geral

O espetáculo é rigorosamente desaconselhável para menores de 14 anos


segunda-feira, 3 de outubro de 2011












NEM BARRO NEM TIJOLO!


A modernidade está velha, raquítica, diabética e hipertensa. A pós-modernidade, sua filha bastarda, já pirou, encheu a cara de ácidos, fez três abortos e andou flertando com velhos magnatas que só costumam tomar banho aos sábados. Dizem por aí  que ambas, mãe e filha, filha e mãe já marcaram o lugar e a hora do suicídio. Querem entrar pra história de forma honrosa. Sabem que se ficarem por aqui zanzando assim, sem rumo, se tornarão em breve tempo ilustres e desrespeitadas desconhecidas, pois o futuro tem memória curta e já sofre de Alzheimer. O passado passou voando por aqui e já está devidamente instalado lá na próxima encruzilhada, esperando o momento propício para atacar os primeiros incautos que surgirem. E o agora, agora é assim: Nem barro nem tijolo. Afinal ficamos todos olhando nossas sombras desgarrando-se de nós e fugindo em desabalada carreira. O que fazer, então? Esperar, esperar e esperar que um objeto não identificado, vindo sabe lá de onde, nos resgate desse imenso tsunami de vazios... Até lá, que tal jogarmos alguns milhos aos pombos da praça?

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

ETC....ETC....E.....TAL

Carros que se emocionam com beijos de novelas, cadeiras de três pernas que dominam o mandarim, doce de marmelo colhido antes do meio-dia, chapéus fabricados com pêlos de cavalo alazão, presunto de carne de porco rouco, sapatos que choram quando nasce um camelo, rádios movidos a ciscos de rodamoinhos, roupas para vestir caramujos rajados, refrigeradores que ao serem abertos tocam o hino do Lesoto, etc... enchem nossas garagens, bolsas, gavetas, bolsos, armários e dispensas. Já não sabemos viver sem inutilidades. Se me faltar uma delas morro de raiva ou me matam de desprezo!...

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Números!!!!!

Na nossa frente, nas horas do almoço e jantar a TV vomita mortos, não pessoas, só números. Roubaram nossos nomes e nossa história pessoal. Quem morre todos os dias nos cada vez mais sanguinários e inescrupulosos noticiários das televisões, não é o avô que foi buscar a neta na escola, a senhora que acabou de plantar uma roseira no jardim, o vendedor de picolé que sonha ter uma casa, o professor de história que está apaixonado por uma bailarina, o motorista que volta pra casa depois de uma longa viajem, a moça que acaba de receber o anel de noivado... Morre o “7” o “11” o “19“ o “27” o “43”...